Por Thaís Barcellos
São Paulo, 06/05/2020 – O economista Nilson Teixeira, sócio-fundador da Macro
Capital, defendeu, em live organizada pelo BTG Pactual, que o Banco Central
deveria usar todo o orçamento disponível para flexibilização monetária,
considerando que certamente as notícias pela frente são ruins para a atividade
brasileira.
“Como diz Alan Blinder (economista e professor em Princeton), se você não
sabe o que vem pela frente, você vai devagarinho, agora, se você sabe, vai com
força significativa. Você sabe o que vem pela frente. As notícias são muito
ruins”, explicou, citando a queda de 9,1% da produção industrial em março,
com expectativa de recuo de mais de 20% em abril, além da inflação declinante.
“Acreditamos que as projeções de Copom de inflação devem ficar em 2,0%
este ano, e alguma coisa como 3,0% no ano que vem, o que me parece que é
condizente com um corte significativo. As projeções do mercado são ainda
menores, eu não diria deflação, mas a inflação está caminhando para próximo de
1,0% este ano. Eu entendo que tem que ser feito algo, mas as sinalizações têm ido
em outra direção”, afirmou, ressaltando que a inflação implícita na curva
de juros até 2028 está em torno de 3,0%.
Na avaliação de Teixeira, se o Copom cortar a Selic em 0,50 ponto porcentual
deveria ao menos dar uma sinalização para os próximos passos. “Mas o BC é
a favor de deixar em aberto”, disse ele.
O economista também afirmou que não vê como o corte de juros pode ser
desfavorável. “Acho que vai ser favorável para a recuperação de curto
prazo.” Quanto a uma possível inclinação da curva de juros, Teixeira se
questionou sobre os motivos, se há algum tempo o Brasil já não é uma moeda de
carry trade. Quanto ao câmbio, afirma que os exercícios da Macro Capital
indicam que a depreciação não deve ter impacto na inflação agora, e que não há
provas de que pode ter uma influência não linear, com repasse no futuro.
Quanto à política cambial, Teixeira defendeu maior transparência do BC,
explicando as razões da intervenção, porque às vezes ficam dúvidas sobre os
critérios. “É um pouco confusa essa questão e me parece que poderia
melhorar aumentando mais a transparência.”
Teixeira destacou que o Brasil vai vivenciar uma deterioração fiscal
importante, com adiamento em quatro anos, de 2022 para 2026, do resultado
primário zero. Ele avaliou que as reformas se tornam mais difíceis com a
deterioração do ambiente político, com brigas dentro do Legislativo, como com o
pacote de auxílio a Estados e municípios, e do Executivo, e também entre eles.
“Uma solução para evitar a turbulência fiscal, como a reforma não vem, é
aumentar impostos, uma forma simples é a redução de renúncias
tributárias”, defendeu, frisando que aumentaram de 3,7% do PIB em 2014
para 4,6% atualmente.
O economista ainda criticou as sugestões de emissão monetária, ou popularmente
impressão de dinheiro, para enfrentar a crise, argumentando que há
consequências, como o aumento da dívida pública. “É uma discussão muito
bonita em termos teóricos, mas, em termos práticos, no meu entender, tem pouca
relevância. O regime de metas de inflação não é esse regime, vamos calibrar os
juros e a moeda é endógena, então vai se adaptar.”